domingo, 11 de setembro de 2011

MAIS CRÍTICA SOBRE O ESPETÁCULO LABIRINTO, NO PORTO ALEGRE EM CENA DE 2011.

LABIRINTO
Por Paulo Ricardo Kralik Angelini  September 8, 2011  Deixe um comentário
>>> LABIRINTO (Rio de Janeiro)
Direção: Moacyr Góes
Com: Adriana Seiffert, Andy Gercker, Danielle Martins de Farias, Denise Pimenta, Diego Molina, Fernando Lopes Lima, Gabriel Delfino, José Rarini, Leonardo Hinckel, Mariana Guimarães, Pâmela Côto, Renata Guida, Rita Fischer (Rio de Janeiro)

Um dos espetáculos mais bonitos a que assisti em 2009, no Porto Alegre em Cena, O silêncio dos amantes, era dirigido com inventividade por Moacyr Góes. Pois o mesmo diretor se fez presente nas primeiras atrações deste Festival que atinge a sua maioridade. E se naquele de dois anos atrás o diretor trabalhava com a obra de Lya Luft, mais uma vez, em Labirinto, um autor gaúcho era destaque: desta vez Qorpo Santo.
O dramaturgo, atormentado psicologicamente (por algumas vezes internado), teve uma produção teatral quase febril, pois em 5, 6 meses do ano de 1866 criou a maior parte de suas peças. Bastante inovador, tratou de temas ousados como o adultério, a prostituição, o homossexualismo, a perturbada relação familiar, em uma linguagem non-sense, com uma pitada precursora de Nelson Rodrigues.

A expectativa era, portanto, muito grande. O cenário de Labirinto é composto por muitas mesas e cadeiras sobrepostas, criando espécies de escadarias por onde a mais de uma dúzia de atores transita. A ideia de dividir praticamente todos os personagens dos três textos do dramaturgo (Na ordem: “A separação de dois esposos”, um fragmento de “Hoje sou um e amanhã sou outro” e “As relações naturais”) por quase todo o elenco não é muito original, mas parece, de início, uma boa sacada, que talvez representasse a esquizofrenia do autor. Uma mesma fala é repartida por diversos atores, nem sempre obedecendo ao sexo do personagem.

Outro ponto positivo é a leitura de toda a rubrica, de forma didática, debochada, e que garante os melhores momentos. Por vezes, uma mesma fala é repetida, gritada exaustivamente por um grande número de atores. E o que era uma boa ideia acaba se tornando um exercício um tanto enfadonho, repetitivo, bobo.
O ‘como dizemos o texto’ expõe suas vísceras de forma tão ostensiva que apaga as palavras de Qorpo Santo, ficando em um segundo plano. Os atores são ótimos, sem dúvida. Mas tudo se torna tão mecânico que eles acabam escondidos também sob as suas ações, incorporando personas: a atriz/personagem que não sorri, o ator/personagem que transborda afetação, a atriz/personagem que pisa no melodramático etc. Se há um esboço de sorriso na primeira vez que aparecem, logo cansam.
A direção de Labirinto é propositadamente hiperbólica, mas esse excesso acaba afastando a plateia do palco. O clichê de que o menos é mais, não respeitado aqui, talvez suavizasse um pouco a confusão. Ter um texto por si só excessivo seria suficiente para garantir um bom espetáculo. Porém, o que se viu foi uma plateia desanimada, que aplaudiu de forma protocolar o bom elenco. É uma pena quando vemos um trabalho que tinha tudo para dar certo escorregar no seu próprio exagero.
(* - – - -)
Argumento.net é veículo oficialmente credenciado ao PORTO ALEGRE EM CENA

CRÍTICA DO ESPETÁCULO LABIRINTO


SÁBADO, 10 DE SETEMBRO DE 2011
Labirinto por Roberto Oliveira
Labirinto*


“Há algumas décadas que é feito considerável esforço para integrar a obra de José Joaquim de Campos Leão, que adotou o nome de Qorpo Santo, não só como parte legítima da história da dramaturgia brasileira, como até mesmo como grande prenunciador do surrealismo e do absurdo. Produto de uma mente fértil e imaginosa, suas peças não escapam, na verdade, da incoerência e non sequitur da óbvia e dolorosa perturbação desta mesma mente, e, por isso mesmo, são muito raras as tentativas de encenar os textos do autor.”
Tive que transcrever aqui esta barbaridade proferida pela conceituadíssima e veneranda crítica de teatro Bárbara Heliodora. Não que ela não tenha o direito de pensar e falar o que bem entender, mas, cá entre nós, é um absurdo. É, mais ou menos, como dizer que a obra de Bispo do Rosário é muito rica e imaginativa e coisa e tal, mas que não passa de delírios de uma mente abalada. Dona Bárbara que me desculpe, mas não compactuo com tamanha besteira e continuo devotando um carinho especial pelo escritor Qorpo Santo, não só porque é da terrinha, mas porque tive oportunidade de mergulhar por inteiro na sua obra, que, aliás, é tratada de uma forma totalmente reverente na encenação que Moacir Chaves propõe em Labirinto. Moacir destaca o texto, destaca a “loucura” de Qorpo Santo que desafia o público com seus temas recorrentes: sexo, sexo e sexo. São três comédias encenadas, das quais a mais conhecida é As relações naturais, que é onde mais se identifica a pressão sofrida pelo autor entre a “prisão” exercida pelas convenções sociais e o desejo de dar vazão aos sentimentos e à libido. São três peças que obedecem à mesma concepção com pequenas variações sobre o tema. Utiliza a multiplicidade de vozes, alude à presença do autor em cena, amplifica a contundência de seus textos.
O cenário, que se inspira na profissão de mestre-escola desempenhada por Qorpo Santo, é apenas funcional e pouquíssimas vezes seus níveis são utilizados. O figurino de brechó propositalmente não fecha. Não evidencia nenhuma preocupação com alguma unidade temporal, cromática ou textual. As roupas femininas buscam alguma sensualidade e as masculinas apenas vestem os atores. O elenco é apenas eficiente, sem maiores destaques. Ou, pior, quando se destaca é ruim e apelativo. A encenação é quase uma leitura dramática, pois o que brilha é o texto e o gênio de Qorpo Santo, que, junto com sua caravana de personagens exóticos, passa incólume pelo julgamento da crítica, e mostra que continua afiado mesmo para uma plateia do século XXI. E cada vez que pensamos que estas peças foram escritas em 1866, um arrepio percorre a espinha: imagina-se o impacto que causariam no público que frequentava o recém-inaugurado Theatro São Pedro? Casamento gay, incestos, relações naturais, separações judiciais, mulheres libertinas, delírios religiosos...

* Roberto Oliveira é encenador e ator, fundador do grupo Depósito de teatro

sábado, 10 de setembro de 2011

Colagem de peças de Qorpo-Santo mostra a obra do nosso querido conterrâneo precursor do teatro do absurdo


 

"Labirinto", do diretor Moacir Chaves, esteve em cartaz nos dias 7, 8 e 9 de setembro, no Porto Alegre em Cena, no Teatro do Ciee.  


O espetáculo carioca reúne três textos - As relações naturais, A separação de dois esposos e Hoje sou um e amanhã outro - do célebre dramaturgo gaúcho Qorpo-Santo, todas mostrando a impotência do ser humano diante do paradoxo de uma estrutura social que o impede de viver de forma plena.
 O encenador Moacir Chaves, um dos mais aclamados diretores do teatro brasileiro, busca explorar ao máximo as possibilidades cênicas dessas obras pouco montadas - mas que continuam contundentes e atuais, pois os personagens de Qorpo-Santo mostram homens em choque com suas pulsões e desejos, envolvidos pelas hipocrisias institucionais da sociedade. Para o público gaúcho, foi uma oportunidade ímpar de (re) ver e refletir sobre a obra desse extraordinário autor que desenvolveu seu trabalho aqui, em Porto Alegre.


Os três textos selecionados pelo grupo, escritos em 1866, demonstram o sentimento de inadequação do autor e sua consciência fragmentada, traço que se reflete na encenação - em que todos os atores fazem todos os personagens.

"As Relações Naturais" narra a desorientação de uma família diante do conflito entre os instintos e a moral vigente. "Hoje Sou Um e Amanhã Outro" revela a fantasia de um monarca justo, digno e misericordioso no Império do Brasil. "A Separação de Dois Esposos" traz o que talvez seja a primeira cena gay do teatro brasileiro, na trama em que um homem chamado Esculápio e sua mulher, Farmácia, mantêm um casamento de aparências.


O gênio louco


Tido como louco, o gaúcho que acreditava incorporar Napoleão III tornou-se um dramaturgo revolucionário. José Joaquim de Campos Leão, que adotou o nome Qorpo-Santo (1829 _ 1883) após uma das iluminações, ou transes, que dizia ter. Natural de Triunfo, Qorpo-Santo transferiu-se, em 1850, para Porto Alegre, onde criou um grupo de arte dramática. Ao todo, escreveu 17 peças, uma delas incompleta. Sua produção ganhou notoriedade a partir dos anos 1960, por iniciativa do jornalista Aníbal Damasceno Ferreira e do diretor teatral Antônio Carlos de Sena. 

Em 1966, Sena levou a obra dele aos palcos, marcando a descoberta do autor por críticos como Yan Michalski, que disse tratar-se de um acontecimento que entraria para a história.


Apontado como um dos precursores do "teatro do absurdo", ao lado de dramaturgos como Beckett e Ionesco, Qorpo-Santo tem entre suas peças títulos como As Relações Naturais, Eu Sou Vida, Eu Não Sou Morte e Mateus e Mateusa. Em 1987, foi transformado, pelo escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, no protagonista do romance Cães da Província.
 O espetáculo Labirinto apresenta no mínimo uma leitura singular e carioca - produção, direção e atuação - do texto de Qorpo Santo. Com ele  o  público teve  a oportunidade de conhecer o viés do autor. Temas como desejo, infidelidade e governança pública são abordados nos três textos  da colagem.
A costura da peça é muito bem feita.  A proposta dos atores dobrarem os personagens dá ritmo e contribui na linha cômica das esquetes. O cenário simples, composto por mesas pretas e cadeiras brancas, distribuídas no palco, não compete com o elenco que usa figurinos da década 1960 e ocupa o espaço cênico sem deixar vazios.
Além do visual as músicas também são daquela década. Labirinto inicia e termina com Mercedes Benz, sucesso de Janis Joplin nos anos 60. O espetáculo utilizou destes recursos para lembrar, de uma maneira nada clichê, que o texto de Qorpo Santo foi redescoberto nesta época.
A Separação de Dois Esposos conta a história de um casal que tenta viver sob as “regras” impostas pela sociedade. Ele é funcionário público e ela dona de casa. A infidelidade e o prazer sexual vêm à tona nesta peça. As Relações Naturais é uma comédia em quatro atos onde um “lar” é transformado em bordel. As filhas são prostitutas, a mãe é a cafetina, e tem um caso com seu criado, e o pai é o cliente de suas próprias filhas. E Hoje Sou Um, e Amanhã Outro fala de governança pública e aborda questões bem atuais ao contar a história de um reino que sofre com a invasão de estrangeiros.
FCQS contatando o diretor Moacir Chaves para uma possível vinda do grupo a Triunfo.
FICHA TÉCNICA

Texto: Qorpo-Santo
Direção: Moacir Chaves
Elenco: Adriana Seiffert, Andy Gercker, Danielle Martins de Farias, Denise Pimenta, Diego Molina, Elisa Pinheiro, Fernando Lopes Lima, Gabriel Delfino, Gabriel Gorosito, Katiuscia Canoro, Leonardo Hinckel, Mariana Guimarães e Pâmela Côto
Figurino: Inês Salgado
Iluminação: Aurélio de Simoni
Cenário: Fernando Mello da Costa
Trilha sonora: Tato Taborda
Realização: Alfândega 88 Cia. De Teatro
Produção executiva: Danielle Martins de Farias, Diego Molina e Mariana Guimarães

FONTES: 




terça-feira, 7 de junho de 2011

CALOU-SE UM ROUXINOL




Um infarto agudo do miocárdio tirou  Jussara Terra do nosso convívio, no dia 21 de maio último, próximo às 3 horas da madrugada, como convinha a uma fervorosa notívaga. A última meia hora de vida passou com os filhos e alguns amigos, ouvindo música e  conversando.  Jussara foi casada com Carlos Alberto Rocha Sandrí , com quem compôs algumas músicas e teve cinco filhos: Carlos  Alberto, Luis Cezar , Daniel Felipe, .Ana Carla  e Luana Claúdia.

Se fôssemos definir Jussara  com uma só palavra, esta por certo seria: música. O Clube do Guri, programa da Rádio Farroupilha foi onde fez sua estréia como cantora,  na década de 50, quando era ainda uma menina. Foi nesta época  que seu pai, Eloy Terra,  também organizava caravanas para o litoral e interior do Rio Grande do Sul, reunindo  as filhas e artistas das Rádios Farroupilha, Gaúcha e Metrópole.  Sendo Triunfo uma das paradas obrigatórias da caravana,  com apresentações no Teatro Municipal, aos 9 anos ela  já sabia o que era possuir um público cativo.
Durante a  sua juventude, cantou em bailes, shows e festas particulares. Na década de 80   além de apresentar-se com a banda de rock Apocalipse, de um de seus filhos, Jussara atuava  como  relações públicas do Centro Cultural Qorpo-Santo e  participava do Coral Arcoires, do Festival de Música Triunfense, MPT, do ‘Prata da Casa’ e do ‘Venha, Veja e Participe’, movimentos culturais dedicados à música e promovidos pelo CCQS, que deu origem mais tarde, em 2008, à Fundação Cultural Qorpo-Santo.

Ela também foi figura destacada no carnaval triunfense, onde esteve à frente de várias escolas e blocos, atuando como puxadora de samba ou desfilando em alguma ala: na Escola da Vó, na Loucos da João, no Paqueras e no Zig Zag. Para este cordão não só criou o enredo e defendeu  o samba, mas foi sua compositora, com Fênix, em 1993.

No fim da década de 90 e início dos anos 2000, participou em Porto Alegre dos Corais da UFRGS e da Casa de Cultura Mário Quintana, fez parte da diretoria do Clube do Poeta Riograndense, cantou nos bares ‘Se Acaso Você Chegasse’, de Lupicínio Filho, no ‘Clube do Jazz’ e no ‘Clube do Chorinho’.  No bar do Lupinho, ela, o marido, e  Gildo Campos (Cará) receberam medalhas de ‘Honra ao Mérito - Lupicínio Rodrigues’, pelo lançamento do CD, ‘Lua Gaudéria nas Porteiras do Rio Grande, Genuinamente Triunfense’ , em 2005.

Em 2007 passou a apresentar-se também:  no ‘Barracão do Samba’; ‘Panelão Tchê’; Sociedade Amigos do Rei do Peixe ; e ‘Clube da Saudade’, na praia do  Quintão; e ainda no ‘Clube dos Namorados,’ no Pinhal,   em alguns fins de semana, até seus últimos dias.   

A partir de 2008 começou a cantar  no  ‘Restaurante Marco Zero’, no    piso  do  Mercado  Público,  no  Centro  de  Porto  Alegre, o que deu-lhe oportunidade de preparar seu segundo cd, por  encomenda. Este  recebeu  por  título ‘Triunfo, Outubro 2008’, onde ela interpreta Lupicínio Rodrigues . Foi uma edição limitada, que ela pretendia vê-la reeditada. Deus queira que o seu desejo seja satisfeito, mesmo pós-morte.

Em outubro de 2009, Jussara foi agraciada com a Comenda Qorpo-Santo, concedida pela Câmara Municipal de Triunfo, através de uma proposição do vereador Álvaro Tomaz Castro de Souza.  

Jussara ainda teve oportunidade de festejar com a família e amigos, no inicio do mês de maio último, o 9º aniversário do Recanto Cultural, um espaço criado por ela para divulgar o trabalho profissional ou amador dos artistas locais, da região e mesmo do resto do país, que funcionava em sua garagem, mas que tinha encontros itinerantes que ocorriam em vários outros locais. Muita gente boa passou por ali, inclusive artistas famosos.  

 Adeus Jussara... até qualquer dia! Esperamos  que já tenhas te encontrado com nossos  conterrâneos que partiram antes de ti: Mestre Tula, Nício, Toninho, seu Antoninho,  e tantos outros virtuosos da música. 
                                                                                                       GLADIS MAIA

domingo, 15 de maio de 2011

FUNDAÇÃO APRESENTA AOS DIRETORES DAS ESCOLAS MUNCIPAIS O SEU PROJETO TRIUNFO DE QORPO-SANTO - POR GLADIS MAIA



Na pauta da reunião ordinária da Secretaria de Educação com os diretores das escolas municipais, no dia 12 de maio último, na Câmara de Vereadores, a Fundação Cultural Qorpo-Santo teve a oportunidade de apresentar o    projeto 'Triunfo de Qorpo-Santo', que está dando seus primeiros passos.

Segundo Francisco Jahn, que coordena tecnicamente o projeto, no cronograma de atividades – cuja culminância é a  realização de um espetáculo de rua contando a história de Triunfo e seus principais vultos históricos, em  2014,  está previsto, entre outras atividades,  um Concurso Literário Cultural permanente, junto às escolas e à comunidade.


Futuramente, destes textos premiados, ou não,  resultarão esquetes, peças teatrais e vídeos, que retratarão além do trabalho dramático o making off.

Num segundo momento haverá a realização de oficinas para a formação de atores e equipe técnica, revitalizando o espaço da antiga Fábrica da Olaria através de um termo de comodato entre a FCQS e a Humaitá.

Francisco - que além da formação em Administração  é mestrando em Artes Cênicas  pela UFRGS, solicitou aos diretores que indiquem  um(a) professor(a) para coordenar o concurso em cada escola, às quais a Fundação em breve  estará encaminhando material de subsídio para tanto, bem como o regulamento do mesmo.

Na ocasião a coordenadora da Fundação, Odila Vasconcelos também fez uma breve explanação sobre a entidade aos presentes. Resumidamente colocou que: “ Queremos mesmo é que a comunidade participe e se empodere deste projeto para que ele se firme como referencial cênico da vida e obra do dramaturgo Qorpo-Santo nascido em Triunfo e mundialmente conhecido, por sua loucura/genealidade.”


Após a participação na reunião, Odila  e Francisco dirigiram-se à  Biblioteca Pública para propor que na mesma se crie o Espaço Qorpo-Santo. Ambos estiveram também no Cartório de Registros para pesquisar sobre o imóvel que pertenceu ao dramaturgo, na Rua Demétrio Ribeiro.

E ainda, por uma grata coincidência, após isso, encontraram o Prefeito Pedro Francisco Tavares no centro da cidade e  conversaram informalmente sobre o projeto e algumas providências que dependem do apoio da Administração Pública, às quais o Prefeito acolheu prontamente, dando-lhes um parecer favorável.

Agora é arregaçar as mangas e tocar para frente o projeto  - que oportuniza a todos os triunfenses a exposição de seus potenciais artísticos e a canalização de sua criatividade. Torçamos todos para que ele venha a dar certo, dando maior visibilidade a Qorpo-Santo na sua própria terra.  Ganha com isso não só  a Fundação,  mas o município, em várias áreas, entre as quais a  Educação, a Cultura e o Turismo. 

domingo, 1 de maio de 2011

ZERO HORA DESCOBRE A PÁGINA DO NOSSO BLOG NO FACEBOOK - POR GLADIS MAIA

Ao sermos contatados por Tiago Rech, que assessora Túlio Milman,  do Informe Especial de Zero Hora,  ficamos bastante contentes, nossa voz começa a chegar aos ouvidos de quem importa muito à nossa luta. Agradecemos a colaboração: nós da Fundação, Triunfo e seu povo e por certo Qorpo-Santo, onde e aonde estiver.  



domingo, 24 de abril de 2011

FUNDAÇÃO CULTURAL QORPO-SANTO TEM NOVA LOGOMARCA

A criação da nova logomarca é da jornalista  Gladis Maia que buscou reunir no trabalho dois expoentes triunfenses, o artista plástico Olegário Triunfo e o dramaturgo Qorpo-Santo.










Abaixo postamos a caricatura usada na logomarca (encontrada na web) com a finalidade de identificar melhor a assinatura do seu autor. 




Fundação Cultural Qorpo-Santo comemora o aniversário do dramaturgo projetando um espetáculo apoteótico para 2014


                                                           
                                                Gladis Maia



A luta de Qorpo-Santo para inscrever seus escritos nos circuitos da cultura, publicá-los, enviá-los à posteridade, fazê-los viver para além de si mesmo e buscar seus interlocutores, não foi leve.  Foram tortuosos os caminhos que esta produção trilhou para chegar viva ao século XXI.
                                                                                              
                                                                                              

  

 Na segunda metade do século XIX, no Rio Grande do Sul, inicia-se a trajetória de um criador que não foi  em seu tempo tomado como artista. Um homem que viveu a experiência do estigma de carregar a tarja de louco, que conheceu o primeiro manicômio brasileiro e lá mesmo produziu parte de sua obra que permaneceu por cem anos esquecida.

Ao nos aproximarmos da sua história temos a sensação de que é pura ficção, que nos chega através de suas próprias palavras inscritas na obra. No segundo volume de sua 'Ensiqlopédia ou seis mezes de huma enfermidade', Qorpo-Santo nos apresenta sua autobiografia. Conta que nasceu na Vila do Triunfo, em 1829. Aos 11 anos, após a morte do pai, veio para a capital da província estudar gramática e trabalhar. Nas décadas de 1850 e 1860, habilitou-se para o magistério público, lecionou,dirigiu escolas e fundou um colégio. Casou-se, foi eleito vereador da câmara municipal de Alegrete, nomeado subdelegado de polícia e recebeu o grau de Mestre.

Nesse mesmo período, o autor  escreveu alguns textos para jornais, e, quando estes passaram a não publicar mais seus escritos, começou a publicar o seu próprio jornal, 'A Justiça', durante alguns meses.

A partir de 1862, dedicou-se também à construção de uma nova ortografia para a língua portuguesa. A reforma ortográfica que propunha destinava-se a simplificar a escrita e combater a desordem ortográfica vigente à época. Em 1868 publicou em 'A Justiça', um documento com regras do seu sistema ortográfico, com o qual escreveu sua 'Ensiqlopédia'.

Aos 35 anos, sofreu a primeira intervenção da justiça que solicitou um exame de sua sanidade mental. A partir daí houve um longo processo até sua interdição, quatro anos depois. Em 1968 foi enviado ao Rio de Janeiro pelo Juiz de Órfãos e Ausentes para ser examinado por especialistas da capital. Foi internado no Hospício D. Pedro II, onde recebeu uma avaliação médica que fazia referência ao diagnóstico de monomania em suas formas intermediárias.

Qorpo-Santo ficou, então, por um período, recolhido na Casa de Saúde Doutor Eiras, no Rio de Janeiro.  Sua excitação mental, sua necessidade de tudo escrever, se adequava bem ao diagnóstico de monomania.

O teatrólogo saiu desta internação com um novo relatório, que conclui por sua aptidão para gozar de seu livre-arbítrio. No entanto, de volta a Porto Alegre, lhe foi solicitado que se submetesse a novo exame de sanidade. Desta vez, Qorpo-Santo se recusou a comparecer. Em virtude de seu não comparecimento, o juiz o interditou, declarando-o inapto para gerir sua pessoa e seus bens e nomeando para ele um tutor.

Mesmo cercado de sarcasmo e descrédito, durante o período em que se batia contra a psiquiatria e a patologização de seu modo de existência, Qorpo-Santo dedicava-se a uma atividade literária febril. Escreveu sua 'Ensiqlopédia ou seis mezes de huma enfermidade', provavelmente durante a década de 1860.

 Em 1877 conseguiu autorização para abrir a Tipografia Qorpo-Santo e imprimir seus escritos, que não eram mais aceitos em outros jornais. O resultado são nove volumes de uma produção caudalosa e desconexa, feita de: versos, relatos, provérbios, reflexões sobre política, moral, ética jornalística, anúncios, bilhetes, confissões autobiográficas, comédias, projetos literários, interpretações dos Evangelhos. Enfim, fragmentos que, no seu conjunto, apresentam uma vastíssima visão de mundo.

Em 1925, na primeira referência  não contemporânea à produção de sua obra,  um crítico fez o escritor gaúcho participar da polêmica que se instaurou no Brasil a partir da Semana de Arte Moderna de 1922.

 Qorpo-Santo foi utilizado pela crítica de arte brasileira como recurso para depreciar obras modernas pelo seu suposto caráter mórbido e louco. Em três artigos publicados naquele ano, Roque Callage afirmou seu repúdio às idéias modernistas e, para desqualificar os poetas modernos, reivindicou para Qorpo-Santo, em tom irônico, "a glória de ter sido o verdadeiro fundador da escola futurista no Brasil".

 Para fundamentar a afirmação, transcreveu versos de Qorpo-Santo e os comparou aos de Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Guilherme de Almeida. Após assinalar a correspondência entre os poetas, vendo na produção de todos eles desordem, falta de lógica, confusão mental, o crítico concluiu que o modernismo é fruto de uma "demência coletiva" e que seus poetas chegavam a ser mais malucos que Qorpo-Santo.

Em 1930, em uma entrevista de Múcio Teixeira, dada ao Globo do Rio de Janeiro, mais uma vez a obra do escritor gaúcho foi utilizada para desqualificar a poesia moderna, por meio da indicação de proximidades entre as duas produções. Múcio Teixeira lamentava que os poetas da nova geração seguissem os passos do maluco rio-grandense.

Mas se alguns críticos do modernismo conheciam a obra de Qorpo-Santo, os modernistas, eles próprios, não se interessaram por pesquisar a produção do escritor gaúcho. Perderam a oportunidade, pois o mais surpreendente é que, se retomamos as poesias de Qorpo-Santo, descobrimos, de fato, muitas ressonâncias com as propostas modernistas. Os passadistas tinham razão, mas seu argumento teria de ser colocado de cabeça para baixo. Não era a produção dos modernistas que não tinha valor, mas a obra de Qorpo-Santo que trazia traços de certa modernidade.

Com efeito, a escrita automática, o verso livre, as colagens de fragmentos textuais heterogêneos, o humor, a simplificação, a adoção de uma linguagem altamente coloquial e a incorporação de elementos do cotidiano na prosa e na poesia, característicos da obra de Qorpo-Santo, são grandes armas do modernismo nos seus primeiros tempos, quando a sátira e a paródia invadiram os manifestos, as revistas e os discursos narrativos e poéticos.

Outras características que foram fontes de pesquisa e investigação poética de autores como Oswald de Andrade e Mário de Andrade, tais como o desnudamento dos procedimentos, e a atitude de autorreflexão contida na própria obra, também se fizeram presentes em Qorpo-Santo como quando discute rima e metrificação dos versos, nos seus próprios poemas.

Nos anos que se seguiram a estas críticas que associavam a produção de Qorpo-Santo a dos modernistas, seus escritos foram esquecidos e só voltaram a ser visitados na década de 1960. Após um século de sua hibernação, enterrados em antigas bibliotecas ou guardados em coleções particulares, como raridade, no início da década foram descobertos por um grupo de intelectuais, professores e alunos universitários de Porto Alegre.

O interesse inicial voltou-se para as peças de teatro e, na noite de 26 de agosto de 1966, três delas estrearam em Porto Alegre. A montagem foi muito bem recebida pelo público, e a temporada, inicialmente prevista para cinco dias, foi estendida, com platéias sempre lotadas.

No ano seguinte, Décio Pignatari, em passagem por Porto Alegre, travou contato com o grupo que havia realizado essa montagem e conheceu o texto das três peças encenadas. Sua impressão foi a de que o teatro de Qorpo-Santo era um teatro de costumes que havia sofrido uma "desregulagem de registro", configurando um antiteatro que, se lembrava Ionesco, tinha parentescos também com Artaud.

Em fevereiro de 1968, a dramaturgia de Qorpo-Santo estreava no Rio de Janeiro com as peças 'Mateus e Mateusa' e 'Eu sou vida; eu não sou morte', colocando os cariocas em contato com a obra de um autor que Yan Michalsky considerou verdadeiramente sensacional. Este crítico, que estava presente na estreia, escreveu sobre a montagem no Jornal do Brasil, chamando a atenção para a precocidade, o modernismo, a ousadia de Qorpo-Santo.


Em 1969, Guilhermino César organizou a primeira publicação das peças de Qorpo-Santo. Em 2000, suas poesias inéditas foram reunidas por Denise Espírito Santo e, em 2001, tivemos a publicação do Teatro Completo de Qorpo Santo por Eudynir Fraga.

                                     

TRIUNFO DE QORPO-SANTO




Este é o nome do projeto da Fundação Cultural Qorpo-Santo, coordenado pelo professor Francisco Goulart Jahn,  cujos  primeiros passos  foram dados ainda no final do ano passado, quando o mesmo palestrou sobre o tema,  por ocasião da Feira do Livro, quando foi lançado o blog da entidade ( http://fundacaoculturalqorpo-santo.blogspot.com/ ) . Em linhas gerais trata-se de um trabalho envolvendo a comunidade em geral, mais especialmente os estudantes, com escrita, teatro e cinevídeo, em todas as suas especificidades.

 A epopéia que foi a vida e constitui a obra de Qorpo-Santo,  delineada neta matéria,  por si só justifica o  projeto, que visa  dar visibilidade a vida/obra de Qorpo-Santo, na sua terra natal, para que as crianças nos lares e nas escolas já cresçam cônscias do seu valor e tenham o orgulho de estudar, interpretar e divulgar a maneira singular em que viveu o autor e a produção de sua intempestuosa obra literária. É o triunfo, a aclamação  de Qorpo-Santo em  sua própria terr. É o Triunfo de Qorpo-Santo, de Bento Gonçalves e de tantos outros expoentes que fazem parte da nossa cultura e história.





 O projeto – que já recebeu o aval e o apoio do Conselho Municipal de Cultura, da Secretaria de Cultura e Turismo e da Secretaria de Educação -  pretende instituir, como pontapé inicial do processo criativo um concurso literário permanente de textos inspirados na dramaturgia de Qorpo-Santo, junto às escolas e a comunidade. Com esta finalidade e para dar também uma visão geral da envergadura do projeto, ficou agendado, junto à Secretaria de Educação do município, uma breve intervenção do professor Francisco, na reunião com os diretores das escolas municipais, que acontecerá na manhã do próximo dia 5 de maio, na Câmara de Vereadores. 

NOTA: esta matéria também foi publicada no jornal 
O Farrapo,  no dia 22 /04/2011