LABIRINTO
Por Paulo Ricardo Kralik Angelini ⋅ September 8, 2011 ⋅ Deixe um comentário
>>> LABIRINTO (Rio de Janeiro)
Direção: Moacyr Góes
Com: Adriana Seiffert, Andy Gercker, Danielle Martins de Farias, Denise Pimenta, Diego Molina, Fernando Lopes Lima, Gabriel Delfino, José Rarini, Leonardo Hinckel, Mariana Guimarães, Pâmela Côto, Renata Guida, Rita Fischer (Rio de Janeiro)
Um dos espetáculos mais bonitos a que assisti em 2009, no Porto Alegre em Cena, O silêncio dos amantes, era dirigido com inventividade por Moacyr Góes. Pois o mesmo diretor se fez presente nas primeiras atrações deste Festival que atinge a sua maioridade. E se naquele de dois anos atrás o diretor trabalhava com a obra de Lya Luft, mais uma vez, em Labirinto, um autor gaúcho era destaque: desta vez Qorpo Santo.
O dramaturgo, atormentado psicologicamente (por algumas vezes internado), teve uma produção teatral quase febril, pois em 5, 6 meses do ano de 1866 criou a maior parte de suas peças. Bastante inovador, tratou de temas ousados como o adultério, a prostituição, o homossexualismo, a perturbada relação familiar, em uma linguagem non-sense, com uma pitada precursora de Nelson Rodrigues.
A expectativa era, portanto, muito grande. O cenário de Labirinto é composto por muitas mesas e cadeiras sobrepostas, criando espécies de escadarias por onde a mais de uma dúzia de atores transita. A ideia de dividir praticamente todos os personagens dos três textos do dramaturgo (Na ordem: “A separação de dois esposos”, um fragmento de “Hoje sou um e amanhã sou outro” e “As relações naturais”) por quase todo o elenco não é muito original, mas parece, de início, uma boa sacada, que talvez representasse a esquizofrenia do autor. Uma mesma fala é repartida por diversos atores, nem sempre obedecendo ao sexo do personagem.
Outro ponto positivo é a leitura de toda a rubrica, de forma didática, debochada, e que garante os melhores momentos. Por vezes, uma mesma fala é repetida, gritada exaustivamente por um grande número de atores. E o que era uma boa ideia acaba se tornando um exercício um tanto enfadonho, repetitivo, bobo.
O ‘como dizemos o texto’ expõe suas vísceras de forma tão ostensiva que apaga as palavras de Qorpo Santo, ficando em um segundo plano. Os atores são ótimos, sem dúvida. Mas tudo se torna tão mecânico que eles acabam escondidos também sob as suas ações, incorporando personas: a atriz/personagem que não sorri, o ator/personagem que transborda afetação, a atriz/personagem que pisa no melodramático etc. Se há um esboço de sorriso na primeira vez que aparecem, logo cansam.
A direção de Labirinto é propositadamente hiperbólica, mas esse excesso acaba afastando a plateia do palco. O clichê de que o menos é mais, não respeitado aqui, talvez suavizasse um pouco a confusão. Ter um texto por si só excessivo seria suficiente para garantir um bom espetáculo. Porém, o que se viu foi uma plateia desanimada, que aplaudiu de forma protocolar o bom elenco. É uma pena quando vemos um trabalho que tinha tudo para dar certo escorregar no seu próprio exagero.
(* - – - -)
Argumento.net é veículo oficialmente credenciado ao PORTO ALEGRE EM CENA
FONTE: http://www.argumento.net/